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Na íntegra: “A sociedade do medo” – Zygmunt Bauman



Na íntegra: “A sociedade do medo” – Zygmunt Bauman

O capítulo 03, do livro utilizado, é uma entrevista, portanto, o texto inicia com uma das questões do capítulo.


Bauman (colagem: Academia de Belas Artes de Varsóvia)

Estamos em uma época em que as medida de segurança que adotamos só geram mais insegurança. Somos diariamente perseguidos pelos mais diferentes tipos de medo. Entre as ameaças, está a de ficar para trás, ser substituído, não acompanhar o ritmo das mudanças. Estudar os medos contemporâneos é tocar num dos pontos centrais da modernidade líquida?

BAUMAN: Os medos agora são difusos, eles se espalham. É difícil definir e localizar as raízes deste medo, já que os sentimos, mas não os vemos. É isso que faz com que os medos contemporâneos sejam terrivelmente fortes, e seus efeitos sejam difíceis de amenizar. Há os trabalhos instáveis; as constantes mudanças nos estágios da vida; a fragilidades das parcerias; o reconhecimento social só é dado “até segunda ordem” e sujeito a ser retirado sem aviso prévio; as ameaças tóxicas, a comida venenosa ou com possíveis elementos cancerígenos; a possibilidade de falhar num mercado competitivo por causa de um momento de fraqueza ou de uma temporária falta de atenção; o risco que as pessoas correm nas ruas, a constante possibilidade de perda dos bens materiais etc.

Os medos são muitos e diferentes, mas eles eliminam uns aos outros. A combinação desses medos cria um estado na mente e nos sentimentos que só pode ser descrito como ambiente de insegurança. Nós nos sentimos inseguros, ameaçados, e não sabemos exatamente de onde vem esta ansiedade nem como proceder.

Os medos não têm raiz. Essa característica líquida do medo faz com que ele seja explorado política e comercialmente. Os políticos e vendedores de bens de consumo acabam transformando esse aspecto em um mercado lucrativo. O comum é tentar reagir, fazer alguma coisa, buscar desvendar as causas da ansiedade e lutar contra as ameaças. Isso é, conveniente do ponto de vista político ou comercial. Tal atitude não vai curar a ansiedade, mas alimentar essa indústria do medo. Adquirir bens para obter segurança só alivia uma parte da tensão e mesmo assim, por breve tempo.


Para o governo e o mercado, é interessante manter acesos esses medos e, se possível, até estimular o aumento da insegurança. Como a fonte de ansiedades parece distante e indefinida, é como se dependêssemos dos especialistas, das pessoas que entendem do assunto, para mostrar onde estão as causas do sofrimento e como lucrar com ele. Não tem como testar a verdade que nos contam. O mesmo ocorre quando nossos líderes políticos nos falam que Saddam Huseeis tinha armas de destruição em massa e estava pronto para detoná-las e quando nos diem que que nossas preocupações e problemas acabarão se os emigrantes forem mandados para casa. A natureza dos medos líquidos contemporâneos ainda abre um enorme espaço para as decepções políticas e comerciais.

Medo Líquido é a tentativa de Zygmunt Bauman em descrever alguns aspectos do medo na modernidade líquida. Além das análises do momento histórico atual, algumas categorias muito importantes são explicadas.



























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